segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Conceito de Comer no Candomblé.

Conceito de comer.


Muito se fala dentro do culto em comer, seja dar de comer ao orixá, dar de comer ao jogo de búzios, aos atabaques, ao Ori e por ai vai, mas qual é exatamente o conceito de comer dentro do santo?

A boca do homem é um espaço culturalmente sagrado e indicado obviamente para receber a comida. Ai se inicia um processo palatável, que é precedido pelo visual, pelo olfativo, formando estéticas próprias para a compreensão dos alimentos. O ata de se alimentar é um ato biológico e também sócio cultural.
A necessidade de comer vem da necessidade de nutrição e sobrevivência, o que não retira significado próprio de cada prato, tipos de ingredientes, locais de preparação e de oferecimento. O ritual de comer sinaliza um dos mais marcantes momentos das diferenças étnicas e profundamente antropológicas.
O conceito de comer é muito amplo, até mesmo comer com os olhos. Comer com os olhos representa o desejo, manifestado por uma voracidade, que antevem a atitude de comer formalmente, com a boca. As sensações do olfato, a emoção e a visão são componente que integram e predispõem a pessoa e seu grupo a interpretar e a se inteirar da comida, para, e, seguida, comê-la.
Assim o corpo inteiro está pronto para comer. Comer fisicamente e comer espiritualmente, comer ritualisticamente. A comida é, antes de tudo, um dos mais importantes marcos de uma cultura, de uma civilização, de um momento histórico, de um momento social, de um momento econômico.
Todos os sentidos são chamados para comer. Todos os códigos visuais, térmicos e olfativos funcionam diante da relação homem / comida. Come-se por inteiro, com o corpo, com a ética, com a moral, com todos os códigos próprios de um grupo e do estatuto social de que o individuo faz parte.
Quem nunca sentiu aquele cheiro de comida que determinada pessoa fazia a anos atras, e por espaço de tempo parece ser arremetido ao passado, arremetido ao local a qual se costumava saborear tal comida, parecendo até mesmo estar na companhia das pessoas que outrora costumavam estar presentes neste local.......  E assim a comida intera-se, se estabelece nas relações mais profundas entre o homem e a cultura.

Dentro do Candomblé a comida ganha dimensão valorativa, sendo entendido o alimento do corpo e também do espirito. Comer, dentro do Ilê Axé, é estabelecer vínculos e processos de comunicação entre homens, orixás, antepassados e a natureza.

A elaboração da uma comida comida dentro da casa de santo não existe acaso. Cada ingrediente, as combinações de ingredientes, os processos do fazer e do servir assumem diferentes significados, obedecendo a coerência com o tipo de nação, liturgias, morfologias particulares dos estilos, do crer e do representar.

As emoções diante de cada comida tem fundamentos, geralmente no conhecimento peculiar de cada prato, sua intenção, seu uso, seu valor particular.

O dendê é sem duvida uma das marcas mais profundas da Africa na mesa Afro-Brasileira. Funciona com uma espécie de síntese de todos os sabores africanos, e lembrados nos terreiros. Se a Africa no geral é assumida no dendê, então comer dendê é comer um pouco da Africa, trazendo-a, assim, para a intimidade de um prato, de um ritual. Reforçando laços e relações simbólicas a partir da gastronomia.

Comer além da boca é uma ampliação do conceito de comer. Tudo está na permanente lembrança e ação de que ''tudo come''. Come o chão, come o ixé, come a porta, come o portão, comem os assentamentos, as arvores comem; comer é contactar e estabelecer vínculos fundamentais com a existência da vida, do axé, dos princípios ancestrais e religiosos do Ilê Axé.

A cabeça é alimentada no bori. Outras partes do corpo são também tocadas pelos minerais dessa obrigação - Aguá, sal, mel, dendê, obi, orobô, sangue, folhas. Assim come e nutre a cabeça, que é parte do corpo, espaço mais sagrado entre os demais que fazem o próprio Ilê Axé.

Comer é acionar o Axé - Energia vital e força fundamentais à vida religiosa e à vida do homem.

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Fonte de estudo: Livro da editora Pallas, Santo come de Raul Lody

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